segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Reverso 'parte 1'

 

     Não são claros meus pensamentos, confuso o meu sentimento, ainda é madrugada, é trágica essa madrugada, será que nunca terá fim?
    É sempre escuro, dolorido, aterrorizante, a agonia toma conta de mim, sou sombra, sou escuridão.
    Já faz tanto tempo, não sei distinguir o que me tornei, por tanto tempo senti a falta dela, e me esgoelei, me contorcendo, me esmagando de dor, a dor de não te-la ali comigo, nem me importava a escuridão do meu ser se ela ali comigo estivesse.
    Quando  soltei de minhas mãos seu corpo ainda quente, porém já sem vida; ela seria minha e de mais ninguém, estaria com ela, iria encontra-la onde quer que fosse, saí correndo, louco, alucinado pulei do alto daquele edifício para encontra-la e encontrei a escuridão.
    Tudo bem está escuro! Mas onde ela está? Não a encontrei!
    Que desespero eu queria morrer, mas não era possível, pois eu já me encontrava nesta condição. 
    Só pensava em te-la ainda que fosse ali naquele abismo.
    Meu tormento nesse período não era a dor que revivi por tanto tempo, a sensação repetida de ter todos os ossos do corpo quebrados, era a obsessão. 
    Não te-la ali comigo sob meu domínio, meu jugo, o vazio era completo, a escuridão contínua, não havia ninguém ali, seria perfeito se ela estivesse comigo, só nós dois, me prendi nesse sentimento tanto tempo  sem perceber que estava enclausurado na minha própria escuridão, fui sendo consumido por mim mesmo.
    Muito tempo havia se passado e já não lembrava mais nada que não fosse aquela escuridão, senti medo de mim mesmo, tinha pavor de estar ali, não havia mais nada à minha volta, não  via nada só escuridão, vazio, um buraco sem fundo e a sensação de estar caindo todo o tempo. 
    Nesta fase já havia perdido a noção de quem  era ou havia sido, não tinha nenhum tipo de discernimento, certo ou errado, bom ou ruim, bem ou mal, nada, apenas o vazio escuro de mim mesmo..."
    E assim já esgotado, conformado por ter me tornado "aquilo", sozinho não teria forças para reagir, ficaria ali eternamente fadado a amargar para sempre a própria existência, mas em algum momento que não sei precisar, voltei a ter pensamentos, eram espasmos de memória, lembranças de um tempo que há muito havia se perdido. 
    Queria te-los a todo instante, afinal para quem estava mergulhado no mais absoluto breu, aqueles instantes que se abriam eram como um passatempo, se pudesse passaria a eternidade na distração dos devaneios, que tais lembranças me traziam. 
    Mas não era eu quem controlava, não vinha quando eu queria, e quando menos esperava, a lembrança de fatos ocorridos em tempo remoto... 
    Depois de algum tempo assim nessa condição, eu esperava esses momentos como uma criança que espera ganhar um doce, e muito tempo se passou...
    Certa vez, ao rever cenas de felicidade abundante; aquela moça...
    Vi logo em seguida imagens de lagrimas, muita dor, separação, desespero era somente meu! Era eu ali!
    Aquela moça estava sempre muito tranquila, e distante de mim, logo em seguida pude ver, havia mais alguém, estava muito ligado a ela era muita dor não podia suportar!
    Essas imagens que vinham como lembranças persistiram se repetindo até que um dia assustadoramente vi minhas mãos, apertando fortemente o pescoço daquela jovem, meus joelhos em cima de suas mãos espalmadas uma de cada lado, joguei todo o peso do meu corpo em minhas mãos e o resultado foi fatal pois a cena posterior era um corpo estendido.
    E por tempos fiquei ligado a esse acontecimento até que consegui enxergar qual foi meu próximo passo aquele que me levara até ali, que me proporcionara atingir tamanho nível de escuridão. 
    Antes não havia percebido, só o que percebia era sua falta, era não te-la comigo, e agora tanto tempo depois tinha contato com o que havia feito, com minhas ações e me remoí e chorei, mas a dor de agora era apenas remorso, culpa, era o peso de algo assemelhado à consciência, mas remorso apenas não era suficiente para abrir a fresta, o cubículo, por minúsculo que fosse de luz naquele universo de escuridão individual e particular, a minha cela, a prisão do meu ser em mim mesmo, e demorou até que eu conhecesse ou descobrisse a chave única que poderia me soltar, e esta não estava em lugar palpável não ao alcance de minhas mãos assassinas,estava em lugar intocável, tão perto e tão distante, essa chave era o arrependimento real, sincero e verdadeiro que custou até que eu o encontrasse, o desejo de reparar o mal feito.
    Antes na fase do remorso, só sabia me questionar, por que havia feito aquilo ? 
    O julgamento de que deveria permanecer ali, merecendo tudo aquilo que havia vivido e muito mais, tudo para aliviar a minha culpa.
    Mas depois com o arrependimento, se pudesse sair dali...
    Se pudesse ter outra chance, pedir perdão...
    Se pudesse compensar todo mal que fizera de alguma forma...

CONTINUA EM ...
Reverso 'parte 2'


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