Totalmente envolvido por essa onda de sentimentos, vi muito longe pequenina claridade, era pequeno foco, mais tinha muito brilho, e fixado naquele ponto de luz permaneci durante todo o tempo.
Já queria sair dali, tinha medo de baixar o olhar e ao retornar não encontra-la mais , há muito não via nada que não fosse trevas, assim fiquei com aqueles sentimentos novos que agora experimentava, e que eram antes desconhecidos, quanto mais fitava aquele ponto de luz , mais aumentava meu desejo de alcança-la, o que haveria alem daquele lugar?
Seria uma porta? Uma saída?
Só existia uma forma de saber era chegando até lá mas como?
Não conseguia me locomover , andar ir de encontro, era apenas o desejo de que alguém me ouvisse, pudesse me conduzir,me levar mas como, estava perdido em algum lugar do meu ser longe de tudo e de todos , ninguém viria e eu ali ficaria eternamente..., entristecia, e assim passei a desejar aquele foco de luz cada vez com mais intensidade, mesmo tendo uma percepção da grande distancia que havia entre meu espaço, e aquele o da luz.
O que não percebi é que a minha vontade, o meu querer, me aproximava cada vez mais daquele ponto, daquilo que eu tanto queria.
Até que lá estava finalmente! O clarão era muito forte para mim, precisava cobrir os olhos, mas não podia mexer as mãos , aquela luz me queimava, precisava me proteger, mas não conseguia me mexer, tudo em mim estava quebrado, e de mim saía apenas um ruído parecido com um grunhido de um animal acuado , machucado, senti como se algo parecido com um lençol foi jogado em cima de mim , diminuindo os reflexos e a intensidade de tanta luz , que meu espírito entrevado não conseguia suportar.
Agora conseguia ter melhor percepção das dores monstruosas que sentia , antes o sentimento de obsessão era maior do que tudo, e quando esse se acentuou, havia criado uma resistência, acostumado a ser e estar assim, mas agora alguma coisa havia mudado o que seria ?
Tinha agora alguma sensibilidade e as dores eram horríveis tanto quanto devia ser aquele meu estado, senti uma aplicação, algo como algum medicamento , só podia ser pois o alivio já podia sentir, e depois de muito , muito tempo, pude finalmente adormecer..."
E assim fiquei, por muito tempo, acolhido naquele lugar, sempre coberto, tinha alguém ali que sempre vinha e me aplicava os cuidados e depois saía.
Certa vez ao acordar pude perceber o que estava a minha volta, pude ver pela primeira vez o lugar em que já permanecia há tanto tempo.
Minha visão era muito turva, mas tinha alguma percepção visual, aquele lugar era como um hospital, que cuida, restaura, e cura o corpo espiritual, pude então experimentar um sentimento já há muito esquecido, deixado para traz no tempo, perdido: A alegria.
Percebi quando entrou alguém, o salão era grande havia outras camas e aquela pessoa passando, um a um até chegar a mim, quando consegui fixar os olhos, não podia acreditar no que achava que estava vendo, não podia ser , estaria tendo alucinações?
Aquelas alucinações, deveriam ser drogas muito fortes, e estava me afetando, queria gritar mas em mim não havia voz, fala, só aquele grunhido esquisito, e amedrontado, havia perdido todas as funções do corpo apenas a mente funcionava como se fosse, durante todo esse tempo, ligada sem interrupção a uma fonte que a abastecia, com pensamentos e lembranças.
E novamente aquela moça, e outro dia, e de novo, e depois , e depois, não restava mais duvidas era ela, ela mesmo.
Aquela a quem ceifei a vida, estava ali, continuava serena, como em minhas lembranças seu olhar era terno, procurava para ver se encontrava algum rancor, ou algum sentimento parecido afinal antecipei o fim de sua vida, era por minha causa que estava ali, mas a cada tempo, ainda mais ternura nos gestos, no olhar.
Ela cuidava de todos com dedicação, comigo não era diferente, não era a única que trabalhava ali, haviam outros cada um ministrava um tipo de tratamento, de restauração.
Quando tive certeza que era ela que ali estava a cuidar de mim, tive muita vergonha, como queria poder falar, para pedir mil vezes o seu perdão, como queria ter os movimentos de meu corpo para jogar-me ao chão, e suplicar que me perdoasse, não era possível, fazia então o único movimento que me era possível; fechar os olhos, diante daquele ser que irradiava tanto amor, esperança, não me sentia digno de encara-la, não antes de me ajoelhar e humildemente pedir-lhe perdão pela minha insanidade egoísta.
Quanta perda, quanta dor, quanto tempo, um momento de escuridão, no meu espírito ainda encarnado, e esta se perpetuou por longo período em minha existência .
Minha mente está cada vez mais lúcida, gostaria de levantar desse leito, fazer o que ela faz, cuidar de tantos que chegam como eu cheguei...
CONTINUA...
Parte 'final'
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